Desligado o despertador,
continuei olhando para o teto durante cerca de cinco minutos. Ouvi minha mãe
acordar, ir a cozinha e começar o ritual matinal: minha vitamina de babana com
chocolate; desde que me conheço como gente, ela sempre faz essa vitamina. Fechei
os olhos, ela iria abrir a porta do quarto em minutos para me entregar o copo,
porque não mais uns minutinhos sagrados de sono. Flashes do pesadelo ainda
estavam bastante reais em minha cabeça, a zoada do liquidificador fazia uma
alusão tosca da mistura de pensamentos naquele momento. Silêncio, minutos
depois quebrados pelo som macabro que a porta do meu quarto faz ao abrir, não
tinha óleo certo que fizesse diminuir esse som medonho. Entra minha mãe, me
entrega o copo, tão sonolenta quanto eu, e deixa o quarto. Tomo em longos 5
goles intercalados com breves cochilos. Os momentos seguintes são tão mecânicos
que são feitos automaticamente, para não dizer ainda inconscientemente. Levanto,
coloco o copo na pia, pego a toalha, vou para o banheiro, urino, tomo banho,
escovo os dentes, me arrumo, desodorante, perfume, “mãe to saindo”, “pegou o
dinheiro?”, “peguei”, “vai com Deus”, “amém”, saio de casa com o pé direito,
sempre pé direito, chego ao ponto, estou atrasado! Observo o movimento e
procuro por sinal de vida universitária esperando ônibus (será que já passou?),
provavelmente já subiu para linha final, os pontos de lá estão vazios. Não
custaria nada eu chegar a alguém no ponto e perguntar se o ônibus para a
universidade já tinha passado, mas é mortificante para mim tomar informação
qualquer a terceiros. Não só tomar informações, mas falar no telefone para
pedir alguma coisa ao ‘disk sei lá o que’ ou ligar para o telefone fixo de
alguém e acabar não atendendo a pessoa para quem liguei e ser obrigado a falar
com outrem, ou até mesmo falar em público, tão angustiante. Eis então que desce
a rua, o ônibus, aliviado entro no coletivo, típico de uma segunda feira, acima
de sua capacidade de lotação. Sei que ainda irá parar em ao menos 7 pontos para
entrar pessoas, vou para o fundo, pacientemente educado pedindo licença.
Encontro um cantinho, me encaixo, uma alma caridosa se disponibiliza para
segurar minha mochila, até porque se não se oferecesse eu ficaria batendo com
ela na cabeça até pedir para segurar, e então mais uma hora até meu destino
final.
terça-feira, 6 de março de 2012
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Capítulo 1 - Bawaajige Nagwaagan
Quente era o
estado de espírito que a sala se encontrava naquele momento. Aulas em pleno
Janeiro, no meio do verão, foi a coisa mais absurda que poderia ter acontecido.
Estudante estressado, professores cansados, não poderia ser mais improdutivo.
Mas ali estávamos nós, firmes, talvez não fortes. A professora falava, lecionar
é outra coisa, parecia que estava com a bexiga cheia e precisaria sair às
pressas da sala de aula. Aquela carinha inchada, vermelhinha, fofinha, parecia
estar mais irritante do que nunca. Sempre que possível, deixávamos a porta
aberta, o frescor do ar condicionado que vinha das salas do curso de Computação
transmitia àqueles que estavam mais próximos à saída uma sensação de prazer
descomunal. Aquele calor promovendo a vasodilatação arterial, baixando
consideravelmente minha pressão, deixando meu corpo mole, proporcionando um
sono que deixava a cadeira dura a mais confortável, eu já não conseguia prestar
atenção em mais nada, somente no movimento dos transeuntes do corredor,
desejando estar entre eles.
- Encosta essa
porta, por favor! - a professora chiou! Minha irritabilidade subiu ao nível
insuportável. Peguei o copo descartável da colega ao lado e saí da sala,
inconscientemente batendo a porta com força. Dei o play no iPod e curti o momento.
Cheguei ao bebedouro mais próximo, sem água, rotina naquela universidade.
Atravessei a cantina lotada, como todo dia de segunda feira, muitos
compartilhando o mesmo desejo que o meu, ir embora. Cheguei ao outro corredor,
no bebedouro encho meu copo de água. Não entendo essa coisa psicológica em
sentir vontade de ir ao banheiro ao ouvir ou ver água, mas como a porta era ao
lado, lá entrei. Caminhei até o box mais longe da porta, são os meus preferidos
não sei o porquê, sempre evito os mictórios, gosto de privacidade. Alívio!
"So in love, I'd give it all away,
just don't tell nobody tomorrow.’Cause tonight's the night that I give you
everything, music knockin' 'til the morning light...” eu me pegava cantando
a música de Beyoncé nesse momento de prazer, movimentando-me de um lado para o
outro, porém sem errar o buraco, “estranha
essa cena”, pensei.
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