Quente era o
estado de espírito que a sala se encontrava naquele momento. Aulas em pleno
Janeiro, no meio do verão, foi a coisa mais absurda que poderia ter acontecido.
Estudante estressado, professores cansados, não poderia ser mais improdutivo.
Mas ali estávamos nós, firmes, talvez não fortes. A professora falava, lecionar
é outra coisa, parecia que estava com a bexiga cheia e precisaria sair às
pressas da sala de aula. Aquela carinha inchada, vermelhinha, fofinha, parecia
estar mais irritante do que nunca. Sempre que possível, deixávamos a porta
aberta, o frescor do ar condicionado que vinha das salas do curso de Computação
transmitia àqueles que estavam mais próximos à saída uma sensação de prazer
descomunal. Aquele calor promovendo a vasodilatação arterial, baixando
consideravelmente minha pressão, deixando meu corpo mole, proporcionando um
sono que deixava a cadeira dura a mais confortável, eu já não conseguia prestar
atenção em mais nada, somente no movimento dos transeuntes do corredor,
desejando estar entre eles.
- Encosta essa
porta, por favor! - a professora chiou! Minha irritabilidade subiu ao nível
insuportável. Peguei o copo descartável da colega ao lado e saí da sala,
inconscientemente batendo a porta com força. Dei o play no iPod e curti o momento.
Cheguei ao bebedouro mais próximo, sem água, rotina naquela universidade.
Atravessei a cantina lotada, como todo dia de segunda feira, muitos
compartilhando o mesmo desejo que o meu, ir embora. Cheguei ao outro corredor,
no bebedouro encho meu copo de água. Não entendo essa coisa psicológica em
sentir vontade de ir ao banheiro ao ouvir ou ver água, mas como a porta era ao
lado, lá entrei. Caminhei até o box mais longe da porta, são os meus preferidos
não sei o porquê, sempre evito os mictórios, gosto de privacidade. Alívio!
"So in love, I'd give it all away,
just don't tell nobody tomorrow.’Cause tonight's the night that I give you
everything, music knockin' 'til the morning light...” eu me pegava cantando
a música de Beyoncé nesse momento de prazer, movimentando-me de um lado para o
outro, porém sem errar o buraco, “estranha
essa cena”, pensei.