segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Friendship

E existe esse menino popular, adora fazer amizades, conversa com todo mundo, "se dá bem com todo mundo", mas no fundo ele é sozinho ou está no grupo errado, não se sabe. Vivia trancado em casa de dia, mamãe deixava a ordem com a tia: "NADA DE RUA!". Vivia pendurado nas grades, os transeuntes pensavam até que era torturado em casa, descia de lá a base de chineladas e gritos "pare-de-gri-tar". Quando finalmente saia, não podia escolher seu grupo de amigos de certa forma. Só podia brincar com o pessoal da rua, nas vistas da mãe, ela precisava controlar as amizades, não queria que o filho virasse um trombadinha. Para sorte, ou azar dele, das nove crianças da rua, cinco eram meninas, todas elas nas casas que circundavam a dele, filhas do pessoal que conviviam em harmonia na rua. Os outros três meninos só um participava de seu círculo de amizades, esse que morava ao lado de sua casa; os outros dois meninos os pais não eram ativos no dia da rua, talvez por morarem na esquina, esses nunca poderiam brincar com ele, não tinha permissão da mãe. Ainda dizem que sexto sentido de mãe não funciona, mas acontece que esses dois meninos que moravam na esquina da rua viraram trombadinhas. Esse único e primeiro amigo homem que o menino popular teve era arredio, seus pais saiam para trabalhar e ele ficava sozinho em casa. Não saia por ordem da mãe, ficava trancado, jogando vídeo games. Logo, só sobravam as meninas da rua para fazer companhia ao menino popular durante o dia.
Na escola não era diferente. O menino popular sempre preferiu a companhia das meninas, as brincadeiras das meninas, os papos das meninas. Tinham aqueles meninos com quem ele andava também, até a hora que as meninas o chamavam para brincar, afinal elas precisavam de "maridinhos" e acabava que esses meninos às vezes se divertiam com as meninas brincando de "casinha". Fez duas ótimas amizades nessa época, amizade que dura até hoje, meninas; passaram-se três anos até então. Saiu por dois anos dessa escola e na outra, como de se esperar, mais amizades femininas. Voltou, reencontrou as antigas amigas, fez outra amizade logo de cara, com menina. Aqueles dois meninos ainda existiam, mas não existia essa amizade mais. Dois anos depois mais uma menina se juntou a trupe. Eram cinco agora.
Mas na rua a vida dava novas cartas, aquele seu amigo, aquele considerado como irmão, estava indo embora com o pai. O popular nem entendia que seus pais estavam se separando, ele só entendia que estavam afastando ele de alguém que ele gostava muito. Na verdade, ele até culpou o amigo; só foi compreender as coisas depois de um tempo. Então sobraram as meninas. Eis que nessa época entrou outra para a gangue e o popular se identificou logo, mas ela estava longe de se tornar best friend dele. Lésbica, ela confessou um tempo depois. Eram poucos os tempos que passava com as vizinhas, resumia a finais de semana e férias. Interessante como as coisas mudam em 12 anos, mas ainda tinha muita brincadeira no meio de tudo isso. As férias sempre juntou todos eles.

É nessa parte da história que ele começou a ser “popular”, era ensino fundamental, turno onde mais da metade do pessoal da escola estava estudando, todo mundo via todo mundo, todo mundo sabia tudo de todo mundo e ele tinha algo que o fazia estar na boca do povo, mas nem ligava, todo mundo conhecia ele e ele a todo mundo, conversava e se dava bem com todos. Mais dois anos e o grupinho da escola começou a se desmembrar e foi-se uma para Minas. Existia essa menina que surgiu um ano antes de algum lugar, "amizades erradas" ela escolheu, mal aos olhos do popular, principalmente depois que as amizades erradas foram embora e ela começou a se fincar no grupo dele, tomar conta do lugar onde não te pertencia, lugar de uma amizade de cinco anos. Somente atritos, brigas, bate bocas. Um ano depois, o laço que prendia essa intrusa ao grupo estava indo embora, triste estava o popular, pela “perda” de mais uma amiga, mas feliz, porque ia se livrar da intrusa, mas ainda existia algo a mais que ele sentia. Meses depois iam se tornar namorados, enfim, papo para outra história. Mas agora eram quatro. E então era ensino médio, novas amizades, novos amores, mas os quatro ainda juntos. Até que a amiga laço volta de férias. Traição, palavra forte, mas a confusão foi tão forte quanto e duas de suas melhores amigas, aquelas que amizade tinha começado há 13 anos não mais eram amigas e ele estava dividido. Não poderia escolher lados. Uma amizade que já estava abalada pela distância, não tinha corrente de prata que segurasse. Corrente essa que ele ficou de fora, "só para as meninas" (estava ele no lugar certo?), enfim, passado. Essa traição foi um marco, muita coisa mudou.
Agora ele era uma corda, ele que segurava as duas pontas penduradas para não caírem no abismo. Ele não podia soltá-las, porque não podia pender para um lado só. E então se formou grupinhos diferentes nessas duas pontas. Mas ele se dava bem com todos, então ele estava junto com todos. Mas esses dois grupinhos eram, de certa forma, como agua e óleo, não se misturavam, não formava homogeneidade. Último ano do ensino médio, inferno astral para o popular, que deixava de ser popular. Um dos piores anos de sua vida. Problemas com amigos, não podia contar com os amigos, queria contar com os amigos, podia contar com os amigos, mas não queria contar com os amigos. Foi um ano relativamente sozinho, um ano andando pelos cantos, um ano que guardou seus medos, segredos, amores, raivas. Aquele sorriso no álbum de fotografia de formatura não era tão verdadeiro quanto parece. Não encerrou o ano com chave de ouro. Só existiu um único amigo que presenciou tudo da telinha do computador, amigo esse que surgiu nesse ano por meio de terceiros, amigo que entendia exatamente tudo pelo o que ele estava passado, por talvez ter passado também; ele se tornou o baú de segredos, terrores, amores desse pequeno popular. Engraçado como a melhor amizade que poderia existir naquele momento, estava longe, se resumia a um programa de mensagens instantâneas; longe de poder trocar um carinho, um abraço, um sorriso, só palavras, confortantes, mas apenas palavras.
Eis que agora está na Universidade. Ninguém o conhece lá. Ninguém sabe de sua vida. Ninguém o vê. Ninguém fala dele. Acabou escola, acabou a popularidade. Popularidade? Really? Ela realmente existiu? Enfim. Nessa fase da vida desse pequeno... qual adjetivo? Vamos ficar só com o pequeno. Nessa fase da vida desse pequeno, ele foi obrigado a fazer novas amizades. Nada mal para uma sala com 30 pessoas, só seis serem homens, estava no céu, ou não! Antissocial como esse pequeno é, dificuldade mil achou em fazer nova amizade, mas ali ele grudou naquela menina. Finalmente! Gênio forte desse pequeno ou ele realmente é chato de natureza, não se "intimou" com muitos. Ele estudou todos ali naquela roda e essa menina ele ia usar como bomba de escape. Alguém que ele realmente precisasse desabafar quando as coisas apertarem. Passaram-se três semestres. Agora ele tem aquelas três amigas melhores que ele não desgruda, mas aqueles amigos amores, uns dois, mais aqueles queridos, não... não consigo contar os queridos, pula essa parte. Amigos amores não tem definição, são aqueles que ele ama tá junto, sente um carinho especial, confia de olhos fechados (mesmo o outro querendo abrir, desconfiança é o segundo nome desse pequeno), aqueles que ele quer perto, aqueles que ganham o Óscar de o e a melhor coadjuvante; mas nessa altura do campeonato já se dá bem com toda a sala, mesmo não dando. Não só na Universidade, mas em seu bairro surge essa amizade que de desejo passou a ser companhia ideal de filmes, séries, músicas, cerveja e afins... eis o que o salva.
Aqui está 20 anos de amizades mais que resumidas; se fosse aprofundar todas as amizades que foram, que ficaram, que surgiram, que iludiram, os só conhecidos, seria um livro. Qual motivo real para o texto? É exatamente essa parte da vida do pequeno. Essa é a parte onde tudo se separa. Onde não tem como manter junto. Outro dia ele se pegou olhando turistas na rua, lembrou-se de sua infância, de seus vizinhos. Quanto tempo tinha que não se juntava todos? Quanto tempo se passou desde a ultima partida de baleado? Uma das meninas trabalhando e "casada", outra fazendo faculdade na capital, outra se matando no cursinho, outra cuidando do sobrinho, outra cuidando não só dos dois sobrinhos como agora de seu próprio filho e outra simplesmente foi morar com o namorado no Sul. Aquele amigo, primeiro amigo, então apareceu, seis anos depois de ter ido embora, mas só por uma noite. Como colocar seis anos em dia em somente duas horas de papo? Enfim, foi embora novamente. Aquela que parecia estar longe de ser sua best, hoje é quem ele mais considera, com quem ele mais sai, única a quem ele conta segredos. Como as coisas mudam, como o tempo é traiçoeiro. Sozinho na rua.
Aquelas amizades de escola? Uma em Minas, duas em Aracajú, outra em Salvador, só uma ficou presa nesse cubículo, junto a ele. Por mais que hoje sejam como irmãos ex-amantes, por mais que andem juntos, por mais que ela seja uma das duas melhores amizades que ele tem na cidade atualmente, ela também tem seu novo ciclo de amizade; ciclo esse que o pequeno não anda, não se sente bem em andar, não ocorre dissolução, não combina; sem deixar escapar que ainda existe a amizade entre o laço e a irmã ex-amante que ofusca qualquer amizade entre do pequeno com cada uma delas. Mas ainda tem essa companhia do bairro, que mesmo tendo o mesmo gosto para algumas coisas são tão diferentes um do outro, mas ele sempre o salva, ele que sempre tá lá, é compatível; mas não perfeito. A melhor companhia tem seus melhores amigos, o pequeno pode ser o melhor amigo dele na cidade, mas existem aqueles que estão mais acima, existem aqueles que são para a vida, aqueles que são a primeira escolha, aqueles na capital. Essa cidade não presta para a melhor companhia, assim que acabarem os estudos: “adeus cidade, adeus pequeno, levo você no peito comigo”; e mais uma vez o pequeno estará sozinho.
Tão sozinho quanto na sala de aula. Achas que não? A maioria das atividades são em grupo, então tá tudo ótimo, unidos sempre. Mas são nas atividades em dupla que o pequeno realmente percebe os fatos. Aquelas três melhores? Bem, duas delas se juntam e fim. A outra, acaba se juntando a uma terceira, que até então entraria no grupo dos queridos, mas depois de um tempo, se tornou só mais uma na sala. Os amigos amores, bem, eles têm os seus preferidos também. Nessas horas que realmente percebe que ele tem melhores amigos, mas não é o preferido de ninguém. Lembrado somente quando não há escolha. Queria ele ter um best friend forever na sala, aquele que pudesse ser a primeira escolha um do outro.
Mas ainda resta aquele amigo da telinha do computador. Aquele que engloba todos os tipos de amigos. Ele é a melhor companhia, o melhor amigo, best friend forever, amigo amor, amigo querido, bomba de escape, irmão, primo e melhor de tudo a primeira opção um do outro. Mas a vida tinha que ser sacana e não facilitar, tinha que colocar os dois para morarem longe e só fazer os dois se conhecerem meses depois de um se mudar da cidade onde o outro mora. Tudo bem, em relação a isso eles estão dando um jeito e sempre que possível estão juntos e fazendo planos para o futuro; essa amizade a vida não pode ser egoísta o suficiente para fazer acabar. Destruiria esse pequeno que por mais que tenha bons e grandes amigos, ainda se sente sozinho.

Isso está longe de ser uma cobrança, ninguém deve nada a ninguém.

Um comentário:

  1. BEM VINDO, primo! :D

    Já tinha lido esse texto e também te dito que meus olhos encheram de lágrimas! Existem pessoas que se tornam especiais na vida a gente de uma forma absurdamente assustadora. Hoje eu olho pra trás e me pergunto como eu consegui ficar tanto tempo sem te conhecer, viu? :)

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